6 – Acordando
Eu mergulhei na escuridão. Continuava a sentir a dor e o fogo, cada vez mais forte e mais intenso do que antes – mesmo eu não acreditando ser possível.
Os gritos e a dor continuaram também. Eu apenas não lutava mais.
Não sei por quanto tempo o fogo continuou aumentando, aumentando. Lembro-me de quando ele se concentrou no meu coração, aliviando – mesmo que eu não sentisse – leve e lentamente as outras partes, uma a uma. Eu quase não podia sentir o alivio, porque o fogo que estava no meu pulso, não desapareceu, só mudou de lugar. Foi pro coração. E então eu mergulhei na escuridão de novo. Era como se eu morresse e ressuscitasse em questão de segundos.
Foi então que muito tempo – muito tempo mesmo – quando eu já não acreditava mais ser possível o fogo aumentar, ele aumentou horrivelmente, mas concentrado apenas no meu coração. Todo o resto estava livre. Mas eu não sentia nada além da dor. Porque diabos eu não estava morrendo? A morte deveria ser libertadora não deveria? Não deveria estar mais doendo.
Eu já quase não conseguia respirar antes, mas naquele momento em que o fogo aumentou horrivelmente no meu coração, eu realmente senti o ar ir embora de vez. Meus pulmões estavam apertados e queimando horrivelmente. Eu estava sufocando. Então era isso? Depois de tanto tempo – pra mim quase um século – eu estava morrendo? Morrendo sufocada numa queimação? Morrendo sufocada com fogo? Tudo bem. Eu aceitaria. Contanto que a dor parasse, para mim estava tudo bem.
Eu caí na escuridão de novo, imaginando se desta vez eu estaria morrendo mesmo.
De repente, o fogo cessou. O fogo, a dor. Tudo. – pensando bem, não. Minha garganta ardia ainda. Mas não chegava nem aos pés do ardor de antes. Esse perto do outro não passava de uma irritação na garganta.
Me dei conta de uma coisa. A dor e o fogo não haviam ido embora. Eles estavam lá, era eu que tinha ficado mais forte e conseguia suportá-los.
Eu... Eu acho que eu conseguia respirar agora. Inspirei rapidamente. Uma enxurrada de cheiros invadiu minhas narinas. Cheiro de madeira, feno, palha, e muitos outros que eu não consegui identificar. Eu ainda estava de olhos fechados. De repente, ouvi um barulho de porta sendo aberta. A porta rangeu. Pela velocidade do som, percebi que a porta estava a quatro metros e meio de mim. O que? Como eu sabia isso? A morte fazia com que as pessoas virassem gênios?
Um segundo depois, ouvi claramente passos. Era um barulho baixo, mas extremamente claro. Junto com os passos, senti um cheiro. Um cheiro muito bom. A coisa mais parecida com que eu conseguia compará-lo era maçã verde e gelo. Eu sei, é uma comparação estranha. Mas era um cheiro gelado e doce. Ouvi também uma respiração. Uma respiração baixa. Calma e alerta ao mesmo tempo. – como eu conseguia identificar isso? – Algo em minha mente deu um sinal de perigo. Abri os olhos. Meu corpo fez um movimento rápido demais, me deixando numa posição estranha. Eu estava... Agachada. Acho.
Eu via um milhão de detalhes diferentes. Micro partículas de poeira dançavam a meio centímetro do meu nariz. Eu via nelas todas as sete cores do arco-íris e uma oitava cor, que parecia uma mistura das outras sete. Olhei além da poeira. Vi a porta de madeira que rangeu. Vi uma teia de aranha. Uma pequena aranha andava despreocupada lá. Ouvi uma leve batida de coração. Era dela? – podia ser. Era tão baixa que eu quase não conseguia ouvir. – Ouvi também a sua baixa respiração. – como eu conseguia?
Vi mais ao longe. A porta me revelava uma noite escura, silenciosa. Fora a respiração da aranha, ouvia uma outra. A primeira que ouvi.
Um barulho estranho rompeu pela minha garganta. Parecia... Um rosnado. – eu estava rosnando?
Olhei pra fonte da respiração calma e alerta. Então eu o vi encostado na parede.
– Becca? Está tudo bem, eu não vou te machucar. – Jared disse. Como se fosse impossível, ele estava mais bonito do que antes. Sua pele pálida, seu nariz, sua boca, seus olhos. Tudo perfeito. Eu o via com muito mais clareza do que antes. Meu corpo se movimentou rápido de novo, e então eu estava ereta, de pé. Sua voz era doce.
– Jared... – falei. Minha voz saiu estranha. Era doce e suave. Como... Como a de Jared. Quando falei, parecia que mil sininhos estavam tocando ao mesmo tempo. Minha voz... Era linda.
– Oh! – ele exclamou. – você está... Linda. Perfeita. A vampira mais linda que eu já vi em toda a minha existência. – ele me olhou cheio de ternura.
Ele andou dois passos em minha direção. Eu andei até estar a 44 centímetros de distância dele. Eu havia entendido o que eu era agora assim que o vi. Eu não havia morrido. A dor, o fogo, não era a morte. Era a transformação.
– Eu posso tocá-la? – ele perguntou, tirando-me de meus pensamentos.
Assenti com a cabeça. Que mal faria ele tocar a minha pele? Ela deveria estar fria. Toquei meu braço com a ponta dos dedos. Minha mão estava fria. Senti vontade de segurar em meu próprio braço. O fiz. Minha pele estava fria, e dura. Muito dura. Parecia que eu estava apertando uma pedra. Ele me olhava enquanto eu me tocava.
Então num ímpeto, seus braços largos envolveram as minhas costas. Jared me abraçou. Fique confusa. Eu achei que ele ia me tocar, pra ver se minha pele estava fria como a dele, e não me abraçar. Eu não sei por que, mas eu retribuí o abraço. Envolvi meus braços na cintura dele. Foi tão bom. Eu sentia falta daquilo. Um abraço era tudo que eu queria desde que meus pais morreram. Mas havia alguma coisa estranha. A... A pele dele. A pele de Jared. A pele dele não estava mais fria. Não estava quente, mas não estava fria. Estava morna.
Surpresa, me libertei do seu abraço. Ele me olhou confuso.
– Jared. Sua pele! Sua pele não está fria!
Seu rosto franzido de surpresa se desfez num sorriso. Ele riu.
– Era só isso? – perguntou.
– Como assim só isso? Antes... Antes a sua pele era tão gelada! Eu não entendo! – falei frustrada.
Ele acariciou minha bochecha com as costas dos dedos e riu.
– Minha pequena. Minha pele ainda está gelada. É que a sua também está. Então pele gelada com pele gelada dá um toque quase quente.
Ele ainda ria. Eu ri junto com ele, e quando me dei conta do que estava fazendo, eu estava abraçando Jared de novo. Uma sensação tão boa me inundou quando fiz isso. Apertei mais meus braços em torno dele.
– Becca. Becca cuidado. – ele disse alerta. O soltei imediatamente.
– O que eu fiz? – perguntei. Eu não havia feito nada de errado. Só o abracei!
– Você está muito forte agora, porque ainda tem vestígios do seu sangue humano. Está mais forte do que eu.
– Ah! Então eu estava te esmagando? – perguntei dando uma risada. Fiquei maravilhada com a minha voz quando ri. Era tão linda.
Ele riu também.
– É por assim dizer.
Minha garganta ardeu violentamente. Levei instantaneamente as mãos ao meu pescoço. Todos os movimentos que eu fazia eram estranhos. Eu pensava em fazê-los e quando via, eu já tinha feito. Eles eram rápidos demais.
– Eu sei. – Ele disse olhando pro meu pescoço. – Você precisa caçar.
– O que? – eu não estava entendendo. Tudo era tão novo pra mim!
– Sua garganta não está ardendo? – eu assenti com a cabeça. – Então. Isso é sede.
– Ah. – minha voz saiu preocupada. Eu estava preocupada. Eu não sabia caçar.
– Venha, vamos caçar. Eu te ajudo.
Ele pegou a minha mão e fomos andando calmamente pelo celeiro até lá fora.
4 comentários:
muiito legal, que fofinho, eles são muito fofos *-*
olha minha história tá ficando cada vez melhor .
http://vidasecretadeholly.blogspot.com
Aliceee,
A história tá ótima.
Eles estão tãão bonitinhos juntos *-*
Beeeijoões
Oi Lici, eu já li o novo capítulo e estou amando!
Joh, Brigada!
E PRAS DUAS: kk acho muito engraçado vocês acharem eles fofos!
Gostei ta legal. Apesar da coisa amanhecer.
bjs
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