Boa leitura!

"O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte." - Friedrich Nietzsche
Abri os olhos. Estava naquela sala escura da casa dos Cullen – mas não sabia qual era. Só me lembrava da escuridão... Da dor... Então, percebi o que houve comigo. Todas aquelas dores, aquelas vozes e aquela queimação foram meu processo de transformação. Meu sonho se realizara. Agora, eu era uma vampira, e poderia viver para sempre ao lado de Edward e da nossa filha, Reneesme.
Mas ao invés de me levantar da maca, percebi que já estava de pé. Não me lembro de ter me levantado (ou se alguém me levantou). Eu me sentia forte, sim, mas não como esperava que fosse. E eu não estava com a minha garganta ardendo de sede – o que é estranho, porque acabo de ser transformada em uma recém-criada.
Me virei e atrás de mim, estava um espelho. Era muito comprido e grande. Mas algo me assustou. Lá, o reflexo parecia normal. Mas meu corpo não aparecia no espelho. Parecia que eu estava invisível. Como... Como se eu não estivesse ali, mesmo sentindo minha presença.
Meus olhos abaixaram para o chão. Eu via meu corpo e tudo. Parecia que tudo estava normal. Será que eu tinha um dom? Um dom de ficar invisível? Achei idéia estranha. Afinal, os vampiros com dons não apresentavam-os tão rápido assim. Mas eu gostei um pouco da ideia.
Foi aí que, ao me virar novamente, percebi que estava errada.
Eu não tinha reparado que algo estava em cima da maca.
Mas era assustador. Era um corpo. Um corpo humano – ou de alguém que acabara de morrer. Mas não foi só isso que me assustou. O corpo era meu. Sim, meu. Era como uma réplica minha, deitada de olhos fechados, fria e dura. Parecia exatamente como eu me via – as mesmas roupas, o mesmo tom da pele, até a cicatriz que ganhei quando James me mordeu estava no mesmo braço de sempre.
Ouvi a porta abrindo. Era Carlisle. Ele estava usando sua roupa de médico, talvez porque ele tenha voltado do trabalho. Ele foi até a maca e começou a examinar meu antigo eu. Será que ele poderia me ouvir? Era minha chance para provar que talvez eu estivesse errada.
- Carlisle? Carlisle, por favor, fala que está me ouvindo.
Mas ele não me ouviu. Continuou examinando meu corpo. Ele certamente não me ouviu ou...
- Carlisle! Olhe para mim, por favor! – gritei, com a maior força que pude.
Ele ainda não me ouvia. Seus olhos se arregalaram de repente e sua expressão facial era de uma surpresa inesperada.
- Meu Deus... – ele exclamou sua voz fraca, como um sussurro, enquanto se ajoelhava ao lado da maca. Talvez ele finalmente me ouvisse!
- Sim Carlisle. Estou aqui! Olhe para mim!
- Edward não vai gostar nada disso. – ele disse, ainda olhando para meu corpo na maca. Por que ele não seguia minha voz e logo olharia para mim?
- Eu sei, mas não tem problema. O importante é que eu estou aqui. Olhe para mim, estou bem ao seu lado! – eu disse, enquanto me ajoelhava ao lado dele.
Ele se levantou e saiu correndo porta afora. Será que ele ia chamar Edward para ele me ver? Ver que eu tinha um dom ou... Esse pensamento não saia da minha cabeça.
Carlisle voltou com Edward um segundo depois. Edward estava lindo como sempre. Eu poderia ficar olhando para ele até quando meus ossos se apodrecessem.
- O que foi Carlisle? Por que você não fala para mim o que está acontecendo? – ele perguntou sua voz aveludada ficando num tom de preocupação.
- É sobre a Bella.
- O que aconteceu? - perguntou Edward.
- Aconteceu que eu ganhei esse dom esquisito de ficar invisível. – eu murmurei. Ao invés de Carlisle assentir, Edward olhar para mim e nós dois nos abraçarmos, nada disso aconteceu. Nem Edward estava me ouvindo. Parecia que minha voz não era nada, como se minha fala fazia parte do vento...
- Parece... Parece que... – a voz de Carlisle falhava. Seu tom de voz era de tristeza e de arrependimento.
- O que? Carlisle me diga logo o que houve com a Bella! – Edward quase gritou de preocupação. Eu também estava preocupada. O que estava acontecendo comigo? Por que ninguém me escutava ou olhava para mim? Por que meu reflexo não aparecia no espelho? Por que tinha um clone meu deitado na maca? Eram tantas perguntas para nenhuma resposta.
Carlisle suspirou triste e falou:
- Edward... Parece que Bella não suportou a morfina. Parece... Que ela não está viva.
- O que?! – Edward perguntou – Não, não pode ser verdade. Quer dizer, você mesmo falou que ela estava reagindo bem, que ela logo acordaria...
- Eu também achei que isso era verdade. Mas hoje de manhã eu vim vê-la e ela não parecia ter “aceitada” a morfina.
- Não. Não, não, não... NÃO! – Edward gritou e abraçou meu corpo na maca.
Não! Eu pensei. Não, era impossível! Edward estava certo, como eu poderia ter morrido se eu estava reagindo à transformação tão bem? Será que eu nunca fui tão forte como esperava? Então isso explica tudo... O reflexo, meu corpo na maca, ninguém me ouvindo ou me vendo... Não, eu não estava morta. Eu estava aqui, assistindo tudo. Se eu estivesse morta, eu estaria no inferno agora.
- Não Edward! Eu não morri. Eu estou aqui! Por favor, olhe para mim. Você sabe que nunca iria de deixar, por favor, me escute – eu dizia, enquanto ia ao seu lado e o abraçava, e percebi que estava soluçando. Quando eu envolvi meus braços em seu corpo, ele nem percebeu minha presença. Ele ainda estava ao lado da maca e parecia que estava tremendo. Se ele não fosse vampiro, eu jurava que agora ele também estaria chorando.
- Carlisle! Carlisle eu tive uma... – ouvi a voz de Alice se aproximando enquanto ela corria ao nosso encontro e parou na entrada da sala, olhando para Carlisle, Edward e meu corpo já morto na maca.
- Não precisa falar. Já aconteceu. – Carlisle falou abaixando a cabeça.
- Alice! Alice olhe para mim! Isso não pode estar acontecendo Alice! Que visão você teve?! – eu perguntava enquanto me levantava e ia até ficar de frente para ela e comecei a sacudir seus ombros. Mas eles não se moviam.
Seus olhos estavam me encarando. Mas o que ela via se eu estava invisível aos olhos deles?
- Edward, eu sinto muito. Não sei como, mas a minha visão veio tarde demais. – Alice dizia. Ela andou até o irmão e se ajoelhou ao lado dele. Só que ela me atravessou enquanto ia até Edward. E eu me senti desaparecer e depois me recompor. Será que era assim que viviam os espíritos?Que cena horrível que estava vendo. Agora, Edward mudou de casado para viúvo. Como ele poderia viver agora?
Ele levaria essa angustia pelo resto de sua vida? E como ficaria Charlie ao saber da notícia? E Renée? E Jacob? E... E Reneesme? Isso era ainda mais triste. Eu não suportaria ver Reneesme crescer sabendo que sua mãe morreu ao lhe dar luz e seu pai viver triste pelo resto da vida.
- Por favor, por favor! Parem! – eu gritava. Essa cena era muito triste. Estava voltado a chorar, queria que eles soubessem que eu estava vendo eles agora, mas... Eles não sabiam que eu estava aqui. – Me tirem daqui! Eu quero sair daqui! Vão embora!
E de alguma forma, meus olhos foram cegados por uma escuridão.

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